quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Lição 13 - As "mentiras" de Raabe e das parteiras de Moisés

1. O caso das parteiras hebreias


ÊXODO 1:15-21 - Como Deus poderia abençoar as parteiras hebreias, se elas desobedeciam a autoridade governamental (Faraó), estabelecida por Deus, e a ela mentiam?

PROBLEMA: A Bíblia declara que "não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas" (Rm 1.3:1). A Escritura diz também: "Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor" (Pv 12:22). Mas o Faraó (rei) do Egito tinha dado uma ordem direta às parteiras hebreias para matarem os meninos hebreus recém-nascidos. "As parteiros, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos" (Êx 1:17).
As parteiras não apenas desobedeceram a Faraó como também, quando ele as questionou a respeito de suas ações, mentiram, dizendo: "É que as mulheres hebreias não são como as egípcias; são vigorosas, e antes que lhes chegue a parteira já deram à luz os seus filhos" (Êx 1:19). Apesar disso, Êxodo 1:20 afirma que Deus "fez bem às parteiras... ele lhes constituiu família"(Êx 1:20-21). Como então Deus pôde abençoar as parteiras por desobediência e mentira?

SOLUÇÃO: Não há dúvida de que as parteiras desobedeceram a Faraó, por não matarem os meninos hebreus recém-nascidos e por mentirem a Faraó com a história de que sempre chegavam tarde demais para cumprirem as suas ordens. Não obstante, há uma justificativa moral para o que elas fizeram. Primeiro, o dilema moral em que as parteiras se achavam era inevitável. Ou elas obedeceriam à lei maior de Deus, ou obedeceriam à obrigação secundária de se sujeitarem a Faraó. Em lugar de cometerem um deliberado infanticídio das crianças de seu próprio povo, as parteiras decidiram desobedecer às ordens de Faraó.
Deus nos ordena que obedeçamos à autoridade governamental, mas ele nos ordena também que não assassinemos ninguém (Êx 20.13). A salvação de vidas inocentes é uma obrigação maior do que a obediência ao governo. Quando o governo nos ordena matar vítimas inocentes, não devemos obedecer. Deus não considerou as parteiras responsáveis, nem assim ele nos tratará sempre que a questão for não obedecer a uma obrigação menor para atender a uma lei maior (cf. At 4; Ap 13). No caso das parteiras, a lei maior referia-se à preservação da vida dos recém-nascidos.
Segundo, o texto claramente afirma que Deus as abençoou "porque as parteiras temeram a Deus" (Êx 1:21). E foi o temor que elas tiveram por Deus que as levou a fazer o que quer que fosse necessário para salvar vidas inocentes. Assim, a falsa desculpa delas a Faraó foi uma parte essencial do esforço que despenderam para salvar vidas.
Terceiro, a mentira delas é comparável com sua desobediência a Faraó, para salvar a vida de recém-nascidos inocentes. Este era um caso em que as parteiras tiveram de optar entre mentir ou serem compelidas a matar bebês inocentes. Aqui também elas decidiram obedecer à lei moral maior. A obediência aos pais faz parte da lei moral (cf. Ef 6:1). Mas se um pai ou uma mãe dá ordens ao filho para assassinar uma pessoa ou para adorar um ídolo, ele tem de recusar-se a obedecer. Jesus enfatizou a necessidade de obedecer à lei moral superior quando disse: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim" (Mt 10:37).

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JOSUÉ 2:4-5 - Como Deus pôde abençoar Raabe, tendo ela mentido?

PROBLEMA: Ao chegar a Jericó, os espias buscaram refúgio na casa de Raabe. Quando o rei de Jericó ordenou que Raabe entregasse os homens, ela mentiu dizendo que eles já haviam partido e que ela não conhecia seu destino. Entretanto, quando Israel finalmente destruiu Jericó, Raabe e todos os da sua família foram poupados. Como pôde Deus abençoar Raabe por mentir?

SOLUÇÃO: Alguns argumentam que não está claro que Deus tenha abençoado Raabe por ter mentido. Certamente ele a salvou e abençoou por ter protegido os espias e ajudado na derrota de Jericó. Entretanto, em nenhum lugar a Bíblia declara explicitamente que Deus abençoou Raabe por ela ter mentido. Deus pode tê-la abençoado apesar da sua mentira, e não por causa disso. Na verdade o ato de proteger os espias foi a demonstração de sua grande fé no Deus de Israel. Raabe acreditou firmemente que Deus destruiria Jericó, e demonstrou sua fé ficando ao lado de Israel contra o povo de Jericó, quando protegeu os espias de serem descobertos.
Outros insistem em dizer que Raabe enfrentou um real conflito de ordem moral. Era-lhe impossível salvar os espias e ao mesmo tempo dizer a verdade aos soldados do rei. Sendo assim, Deus não lhe imputaria a responsabilidade por esse inevitável conflito moral. Certamente uma pessoa não pode ser tida como responsável por não cumprir uma lei menor de forma a cumprir uma obrigação maior. A Bíblia ordena a obediência ao governo de um país (Rm 13:1; Tt 3:l; 1 Pe 2:13), mas há muitos exemplos de justificada desobediência civil, quando o governo atua no sentido de compelir a prática da injustiça (Êx 5; Dn 3,6; Ap 13). O caso das parteiras hebreias, que mentiram para salvar a vida dos meninos israelitas é talvez mais claro neste sentido (veja os comentários de Êx 1:15-21).

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